segunda-feira, 6 de abril de 2015

ESFORÇO INTERNACIONAL BUSCA RECUPERAR O PEIXE-BOI MARINHO

CMA é referência na conservação da espécie

 © Todos os direitos reservados. Foto: Edson Acioli

No início dos anos 1980, o governo federal criou o Projeto Peixe-boi Marinho para recuperar a espécie, que havia praticamente desaparecido das águas do Brasil. Na época não havia dados sobre a ocorrência da espécie e pouco se sabia sobre sua biologia e ecologia. O peixe-boi marinho já foi o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil, e estava classificado como Criticamente em Perigo (CR). Estima-se que na época havia apenas 500 animais em todo o país. Na década seguinte, o Projeto passou a contar com o apoio de algumas ONGs no trabalho pela conservação da espécie.

Os peixes-bois pertencem a Ordem Sirênia. Na fase adulta, eles podem atingir 4 metros de comprimento e pesar mais de meia tonelada Eles são herbívoros que atuam na base da cadeia alimentar. Se extintos, pode desestruturar o ciclo e levar outros animais à morte.
Aos 35 anos de existência, o Projeto Peixe-boi Marinho colhe o sucesso das pesquisas e das ações realizadas para conservação da espécie. Atualmente, os animais brasileiros estão geneticamente mapeados e vários foram soltos em áreas onde a espécie já havia sido extinta. O repovoamento tem promovido uma ligação de grupos isolados, aumentando a variabilidade genética dos animais.

Resgate e reabilitação

O Centro de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CMA/ICMBio) coordena o trabalho de proteção da espécie e o Plano de Ação Nacional para Conservação dos Sirênios, composto por 93 ações voltadas para melhorar o status de conservação do peixe-boi-marinho. Além disso, o CMA coordena a Rede de Encalhe de Mamíferos Aquáticos (REMANE). 

De acordo com Fernanda Attademo, médica veterinária e coordenadora da Unidade de Reabilitação de peixes-bois marinhos do CMA, "uma das mais importantes e trabalhosas ações do PAN é a reabilitação dos filhotes. A destruição dos manguezais e estuários, habitat natural dos peixes-bois, faz com que muitos filhotes se percam de suas mães. Estes animais morreriam se não fossem resgatados".

O CMA já acolheu e recuperou mais de 100 peixes-bois, representando uma grande parcela da população brasileira. Depois da reabilitação, a prioridade é devolver os animais à natureza (reintrodução), nos locais originais. O CMA apoiou a criação de um centro de reabilitação sob responsabilidade de uma ONG brasileira que, desde 2014, recebe os animais encalhados para recuperar e depois soltar na natureza.

Durante a reabilitação, os peixes-bois são avaliados (genética, clinica e comportamentalmente) e os que apresentam condições favoráveis para soltura são transportados para o recinto de aclimatação em ambiente natural, no rio Tatuamunha, em Alagoas, único cativeiro em ambiente natural em operação no país atualmente.

Antes de serem soltos, eles permanecem no recinto de aclimatação por até doze meses, para se adaptar às condições que encontrarão na natureza."O recinto aumenta as chances de sucesso na reintrodução", explicou o analista ambiental do CMA, Iran Normande.

Hoje, quatro peixes-bois estão em Alagoas aguardando o momento de ganhar a liberdade.
Nos últimos vinte anos, o Programa de Reintrodução do ProjetoPeixes-boi, executado pelo CMA/ICMBio já soltou mais de 40 peixes-bois. No Brasil reintroduziu quarenta animais na natureza, com uma taxa de sucesso de 75%.

O CMA também realiza a captura de peixe-boi nativo, desde 2012. Saiba mais. 

Em Alagoas, a espécie não era mais encontrada antes de o Projeto iniciar o repovoamento. Atualmente, o peixe-boi é uma das principais atrações turística da região, além de fonte de renda para a comunidade com a visitação aos animais soltos. A presença dos animais motivou a criação de duas ONGs que promovem o desenvolvimento socioambiental e financeiro da região.

Os animais soltos já estão repovoando áreas no litoral de Sergipe e da Bahia. Nestes dois estados, o CMA conta com a parceria do Instituto Mamífero Aquático (IMA), que monitora e atende os peixes-bois que vivem na região.

O trabalho do CMA com os peixes-bois tem reconhecimento internacional e resultados concretos: a classificação da espécie melhorou na última década, passando de Criticamente em Perigo (CR) para Em Perigo (EN), na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção.

"No diagnóstico das espécies, que deu origem à lista, algumas espécies tiveram sua condição melhorada. No caso do peixe-boi marinho, podemos afirmar que a mudança é resultado de dois fatores: o aumento do conhecimento sobre a espécie e as ações de conservação", declara Marcelo Marcelino, diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio.

Esforço internacional

Além do Brasil, o peixe-boi marinho é encontrado nos Estados Unidos (Flórida), México, América Central e na região Caribenha. A espécie era comum na região de Guadalupe, a maior ilha das Antilhas francesas, no Caribe. No entanto, há mais de cem anos a espécie está extinta no arquipélago que abriga o Parque Nacional de Guadalupe, local escolhido pelo governo da França para iniciar um Programa de Repovoamento da espécie.

"A iniciativa é importante para a conservação da espécie, uma vez que o repovoamento pretende formar um grupo de animais que poderá promover a recuperação dos peixes-bois nesta região do caribe, onde a espécie já havia desaparecido, além de aumentar a área de ocorrência da espécie mundialmente", destaca Boris Lerebours, um dos coordenadores do Programa francês.

O projeto da França foi validado por um Grupo de mais de 20 países da região caribenha, signatários do Protocolo SPAW da Convenção das Nações Unidas de Cartagena. O Brasil vai emprestar cinco animais para a ilha caribenha. "Os animais que serão cedidos não podem ser soltos no Brasil por terem permanecido muitos anos em cativeiro e por causa do alto grau de parentesco e de relação genética com os outros peixes-bois já reintroduzidos", explica a coordenadora do CMA, Fabia Luna.

Os animais selecionados para o repovoamento em Guadalupe, estão em fase final de avaliação clínica e laboratorial para a emissão do laudo de sanidade dos animais. "Se houver qualquer impedimento clínico, os animais não serão enviados, preservando a integridade física e a saúde deles", ressalva Attademo.

A transferência vai contribuir para a conservação dos sirênios, a nível mundial, reduzindo os riscos de extinção, sem prejudicar a sobrevivência da espécie no Brasil. Os animais e seus descendentes continuarão sob a tutela do governo brasileiro e, se necessário, poderão retornar ao país. "Espero que todos contribuam, com a campanha de reintrodução do peixe-boi-marinho em águas internacionais em Guadalupe", declarou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Fonte: ICMBio

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